
Eu amo Pink Floyd. Nossa, como eu gosto dessa banda. Você não gosta muito não? Não ouviu muita coisa pra emitir uma opinião válida? Nunca ouviu falar? E você viveu onde nos últimos anos, nos esgotos? Era amigo do Mestre Splinter (noooossa, entreguei a i-d-a-d-e)? Então hoje é o seu dia de sorte! Eu vou te ajudar a amar o Pink Floyd também. “Mas porque devo amar essa banda?”, você deve estar se perguntando. Você já ouviu The Wall (1979)? “We don’t need no education! We don’t need no thought control!”, sabia que você conhecia esses caras! Então…
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Cena clássica do filme! |
Como esse assunto é, como posso dizer, denso e cheio de pormenores vou precisar resumir a história e me ater a apenas alguns fatos cuidadosamente selecionados pela minha vontade (!). Esse álbum é absolutamente apaixonante (tudo bem, vou me conter, prometo… mas não garanto). Primeiro que ele é verdadeiramente conceitual (aqueles discos que contam historinhas), e digo isso porque existe um monte de álbuns que se dizem conceituais, mas são meros esboços perto deste aqui (desculpe Iron Maiden, amo vocês também, mas Seventh Son of a Seventh Son é um deles, e sendo mais polêmica, Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band também - leia mais em www.ogritodorock.blogspot.com.br). E que história! Em The Wall Roger Waters (baixista, vocalista e principal, pra não dizer o único, compositor do disco em questão) mistura um pouco de sua biografia, ficção e uma pitada de fatos da vida da lenda Syd Barrett (um dos fundadores do Floyd que desenvolveu esquizofrenia por uso abusivo de drogas) pra contar a história da personagem Pink Floyd (ou Floyd Pinkerton como o filme sugere… sim, o álbum virou um filme em 1982!), um astro de rock que fica doido. E não tem como falar do disco sem falar do filme.
Como uma boa parte do material da banda (principalmente os primeiros álbuns) o longa é bem viajado. Não é nem um pouco linear e pode-se contar nos dedos de uma única mão os diálogos entre as personagens. Mas, ao mesmo tempo, tem muito a nos dizer. Por trás de cada cena e cada detalhe existe um segredo e uma intenção. Sabe aqueles filmes que toda vez que você assiste parece absorver mais informações novas? Pois então. O único problema é que fica difícil mesmo de entender se você já não souber a história e já não tiver dado pelo menos uma passada de olho nas letras das músicas (isso pode parecer meio broxante, “Vou assistir já sabendo o que acontece? Não tem graça!”, acredite: tem toda a graça do mundo). E pra quem está interessado em se aventurar nessa história (que vai mudar sua vida, com certeza! Só se certifique de que está bastante feliz e satisfeito no dia em que for assistir… caso contrário o risco de pensamentos suicidas é bem alto… o filme não é muito pra cima)... vamos lá!
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Bob Geldof (Pink) raspando as sobrancelhas para um dos takes da filmagem; a ideia veio do próprio Syd Barret que apareceu um dia no estúdio do Floyd careca e com as sobrancelhas raspadas. |
A história nos mostra toda a vida da personagem Pink através de flashbacks. Ele permanece quase o tempo todo sentado em seu quarto de hotel esperando para fazer um show com sua banda, enquanto divaga sobre a infância e se pica (claro que tinha que rolar umas substâncias ilícitas… não façam isso em casa! Nem no hotel…). Enfim… a infância dele foi bastante dura, seu pai morreu durante a II Guerra Mundial em uma batalha na Itália (como o pai de Roger Waters - ouça a música When The Tigers Broke Free partes 1 e 2), sua mãe é superprotetora e coloca nele todas as suas frustrações, medos e inseguranças (ouça a música Mother), e seus professores são rígidos, autoritários e violentos (ouça o famigerado complexo Another Brick In The Wall parte 1, The Happiest Days Of Our Lives e Another Brick In The Wall parte 2). Na vida adulta a coisa continua difícil, afinal ele tem uma esposa meio obsessiva e precisa lidar com a fama e o assédio da vida de rockstar (ouça Empty Spaces e Young Lust). Além disso tudo, o cara se droga até o infinito (parafraseando o caríssimo Rei do Camarote) o que começa a fundir o seu cérebro (ouça One Of My Turns e Confortably Numb - essa aqui tem um solo arrasador no final que já foi eleito muitas vezes como o melhor solo de guitarra!).
No fim das contas o Pink fica tão fora da casinha que deixa de ter contato com o mundo externo (ouça Another Brick In The Wall parte 3 e Goodbye Cruel World) e cria um mundo seu (ouça todas as músicas a partir de In The Flesh! e atenção para não confundir com In The Flesh?). Nesse mundo interno a personagem se transforma em um ditador fascista, com uniforme, símbolo, saudação e tudo. E ele acredita piamente que tudo aquilo está de fato acontecendo e que precisa disseminar suas ideias e ideais pelo mundo. Lojas são saqueadas, mulheres estupradas, judeus e negros mortos. De repente ele se cansa e grita para que tudo aquilo pare (ouça Stop). E tudo culmina em um julgamento da personagem que acontece dentro da própria cabeça dele (ouça The Trial)! Pink é representado aqui por um boneco de pano que assiste a tudo de forma absolutamente passiva sendo chutado, arrastado e pisado pelas pessoas que depõem contra ou a favor dele, no caso, o professor, a esposa e a mãe. No fim, o veredicto: derrubem o muro (ou, em inglês, “Tear down the wall!”). Muro? Que muro?!
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Outra cena bem conhecida: o Pink adulto e o Pink criança. |
Bom, tem que ter um muro em algum lugar, afinal o álbum não se chama “O Muro” a toa. Acontece que Roger Waters traça um paralelo durante a história entre os traumas de Pink (a morte do pai, a mãe que protege demais, a esposa que cobra sua presença e afeto, a pressão de ser uma estrela do rock, o uso abusivo de drogas etc) e os tijolos de uma grande parede. Como se, na verdade, ele fosse aos poucos construindo um muro invisível que, no fim, será o responsável por essa ruptura psicológica com o mundo real. Uma forma muito poética de se tratar do assunto "doenças mentais", como a esquizofrenia, por exemplo. E o que acontece com o Pink no final? Infelizmente… não dá pra saber! O muro é metaforicamente destruído e a cena final mostra algumas crianças brincando ao redor de destroços (restos do muro de Pink) - estariam elas recebendo seus primeiros tijolos para construir seus próprios muros? Não se sabe se essa destruição do muro mata a personagem, se ela se recupera, se nada acontece ou ainda se ela enlouquece pra sempre mesmo. Sei lá! Mas que é absolutamente fantástico, isso é (desculpa, eu disse que eu não garantia). Bom, isso é um resumo daqueles bem safados mesmo… a história é bem complexa e cheia de detalhes reveladores! Só assistindo e ouvindo pra entender do que eu estou falando.
Mas o que eu acho ainda mais interessante é que o álbum pode ser interpretado de um forma mais universal e não somente de acordo com a vida de Pink. Afinal todos nós temos os nossos tijolos, o que muda é a altura do muro, ou seja, a forma como conseguimos lidar com isso… ou não, como no caso da personagem. Todos nós nos identificamos com ele em algum momento e em algum nível e é isso que faz The Wall ser tão fantástico e incrivelmente atual, no meu ponto de vista.
E você, sabe quais são os seus tijolos?
Fique a vontade para deixar sua opinião e sugestões para os próximos posts nos comentários! E se quiser saber mais sobre o The Wall leia os posts que destrincham cada uma das músicas do álbum em www.ogritodorock.blogspot.com.br
Excelente matéria!!!
ResponderExcluirObrigada! Fico muito feliz quando alguém acha isso... kkkkkk!!!
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