Quando criança eu tive medo do escuro, não saber que tipo de criatura está à espreita, aguardando o boa noite dos pais e consequente apagar das luzes era algo muito assustador. Todos os cantos escondiam formas assustadoras que a luz do dia viria revelar, uma camisa pendurada, um boné. brinquedos, qualquer objeto virava um monstro em minha mente criativa e facilmente impressionável.
Chegada a adolescência, o escuro passa a ser um amigo, amassos no cinema (Não quero ver cenas violentas), áreas pouco iluminadas são as preferidas para brincadeiras incentivadas pelos hormônios em ebulição e a noite se torna uma promessa de diversão para os anos que virão.
O tempo passou, e hoje, já adulto, o medo do escuro volta, mas, com novo significado, é a escuridão da condição humana, violência, miséria, desespero, a ausência de valores, a dominação das subculturas fortalecem o “lado negro”.
Tenho saudade de quando temia os monstros de minha mente. Hoje não os enxergo mais, vejo a camisa, vejo o boné, vejo os brinquedos, mas, todas as manhãs me encontro com o medo nas notícias, pessoas se enriquecem com a ignorância alheia e pregam a intolerância.
Mesmo à luz do sol, o mundo está cada vez mais escuro.