sexta-feira, maio 16, 2014

[Música] The Beatles e a banda dos Corações Solitários do Sargento Pepper

Na vida, contexto é tudo, não é mesmo? Não seria exagero dizer, por exemplo, que Elvis Presley com sua pelves, até que bem comportada, chocou muito mais as pessoas do que Valeska Popozuda com sua... enfim. E isso por causa do contexto, afinal, gente pelada rebolando na TV já não é mais novidade há muito tempo. O Black Sabbath chocou as pessoas na década de 1960 por causa do peso e do clima soturno de suas músicas... hoje a gente ouve Amon Amarth, Mastodon, Cannibal Corpse e diz "Ok." (tudo bem, eu não digo isso... pra ser sincera essas bandas me assustam um pouco...). Enfim, a questão é que o que era subversivo, inovador ou mesmo constrangedor em 1950, por exemplo, não é exatamente parecido com o que pensamos a respeito hoje. Assim, quando dizem que Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (álbum dos Beatles de 1967) mudou os parâmetros da música, acreditem... é verdade, apesar de soar absolutamente normal nos dias de hoje ("absolutamente" talvez tenha sido um termo forte).
Vamos lá. O último lançamento dos Beatles tinha sido o bastante aclamado Revolver que continuava a propagar a imagem "ieieie" do quarteto: meninos bonitinhos (aqui também temos que analisar o contexto, padrão de beleza é uma coisa que muda bastante...), que cantavam músicas românticas e levavam as adolescentes a loucura. Ai, que fofura! I wanna hold your haaaaaaaaand! E todos esperavam ansiosos pelo próximo sucesso que acabou demorando bastante pra sair, o que somado ao fato de eles terem divulgado que não fariam mais shows, fez com que muitos se perguntassem se esse já não seria um indício de que a banda estava caminhando para o fim. E eis que em junho de 1967 surge Sgt. Pepper e "caraca, que que é isso?" foi, com certeza, a primeira impressão de muitos (talvez com um pouco vocabulário um pouco mais chulo). Claro que outros tantos acharam o máximo logo de cara, provavelmente aqueles que, como os FabFour, estavam viajandão no Planeta Xuxa (se você começou a cantar Ilariê - não confundir com Laroiê -, cuidado, você pode estar sofrendo de DNA... Data de Nascimento Antiga).

As pessoas não acreditavam no que estavam ouvindo! Era muito diferente, vanguardista, doido, experimental! Pensa nas músicas que tocavam na época... dê uma rápida pesquisada no Google ou no Youtube e aí você entende perfeitamente o motivo de tanto alvoroço em torno de uma coisa, hoje, tão normal. E aí começaram a surgir as críticas... e a inovação já começa, já que foi nesse momento que a verdadeira crítica de rock começou a dar as caras; antes era como um amigo do jornal que escrevia sobre seu colega que tocava na banda tal. Não se podia ter uma opinião negativa sobre o disco ou o show porque, afinal, eram camaradas. Mas com Pepper a coisa foi tomando outro rumo. A maioria dos que ousaram escrever a respeito não se atreviam a tocar na tão consagrada fama já adquirida pelos Beatles (imagine falar mal deles em 1967!). Poucos enxergaram o que parecia ser, de fato, a verdade.

E qual é a verdade?

Que na verdade (??) o disco não era temático como diziam os boatos, as faixas não tinham nada a ver uma com a outra, exceto pelos barulhos um tanto quanto bizarros e instrumentos indianos misteriosos (porque toda banda tem uma fase "indiana"?), o significado das músicas não era muito mais profundo do que, digamos, alguém chapado observando o mundo girar (muitas músicas foram, até mesmo, proibidas nos EUA por fazerem menção direta ao uso de drogas, como a óbvia Lucy In The Sky With Diamonds). Isso mesmo... apesar de o Sargento ser aclamado até hoje como o primeiro álbum conceitual - aqueles que contam historinha - não é o que acontece. A ideia inicial de fato era de que o disco girasse em torno de um único tema: o norte da Inglaterra, de onde os Beatles vieram. A ideia veio do single lançado pouco antes de Sgt. Pepper e que continha as músicas Strawberry Fields Forever e Penny Lane - sendo que ambas falam de lugares no norte da Inglaterra - a primeira trata-se de uma divagação de Lennon sobre sua infância fazendo menção a um solário que existia próximo de onde morava, e a segunda uma tentativa de McCartney de superar o colega falando da rua Penny Lane. O próprio Lennon disse em entrevista que as pessoas só achavam que o negócio era conceitual porque eles diziam que era (!!).

Pois é! Uma mentira dita muitas vezes se torna uma verdade e, no caso dos Beatles, eles nem precisavam dizer tantas vezes assim pra coisa pegar. O fato é que nessa época a psicodelia estava em alta, e toda banda queria fazer o seu álbum psicodélico, inclusive os garotos de Liverpool; eles acabaram gastando quase 700 horas de estúdio na gravação do LP (sendo que boa parte delas foram gastas tentando produzir sons bizarros com todo tipo de material bizarro ou mesmo com instrumentos musicas tocados de formas impensadas). Muitos tentaram cruzar a estrada da psicodelia, mas poucos conseguiram fazer isso de forma tão elegante quanto os Beatles!

Bom, além disso, o álbum também inaugurou uma séria de novas tecnologias no que diz respeito a maneira como foi gravado e mixado (coisa que realmente não vou saber explicar... não sou muito familiarizada com essas coisas). Uma inovação importante que acabou pegando de verdade foram as letras impressas no encarte; acredite se quiser antes de Sg. Pepper isso nunca existiu! Muitos dizem, ainda, que foi a partir daí que o rock passou a ser visto com olhos um pouco mais indulgentes pelos que não simpatizavam muito com a causa. Os Beatles mostraram que era possível fazer arte através dele... quem diria.

Esse jeito de fazer música acabou influenciando inúmeros artistas que vieram depois. Mas será que eles também não se inspiraram em alguém (ou "alguéns")?

A verdade talvez jamais seja revelada por completo, mas o caso é que existe uma história de que Paul McCartney e John Lennon tomaram algumas ideias emprestadas do controverso (e apaixonante!) Syd Barrett (Pink Floyd, ou como se chamava na época, The Pink Floyd Sound). Acredito que isso seja um pouco difícil de saber. Acontece que o Floyd gravava o seu debut em Abbey Road enquanto os Beatles gravavam Pepper na sala ao lado. Testemunhas dizem que Paul fazia visitas relativamente constantes aos colegas de trabalho; já Lennon não estaria em condições de conhecer ninguém naquela época de sua vida de tão chapado que estava (seu relacionamento com a artista plástica Yoko Ono apenas começava, enquanto sua relação com o velho e bom LSD ficava cada vez mais forte). Em termos de "loucura" o álbum do Floyd ganha de lavada (afinal, até hoje ele soa bastante bizarro pra muitas pessoas, eu adoro!). Então nunca saberemos ao certo de onde partiram as influências, apesar de acreditar que o mais provável é que a coisa tenha sido mútua. Mas existe uma pergunta fatídica: será que Sg. Pepper teria sido o que foi caso o Floyd tivesse sido um pouco mais rápido pra lançar The Piper At The Gates Of Dawn? Não me arrisco a responder!

Syd Barrett antes da esquizofrenia (assunto
interessante para um próximo post...)
No entanto, outra banda vinha experimentando e brincando com diferentes formas de se fazer música: os Beach Boys, que tinham acabado de lançar o aclamadíssimo Pet Sounds (foi a partir disso que o principal compositor, Brian Wilson, colocou na cabeça que o mundo conspirava contra ele e que os Beatles haviam dado um jeito de colocar um espião entre sua equipe para roubar suas ideias... oi?). Enfim... dizem que Sgt. Pepper foi nada mais que uma resposta a obra prima dos Beach Boys (o que acho um pouco exagerado).

Beach Boys
Outra coisa fantástica do Sargento é, com certeza, a capa. E aqui a coisa do "Paul está morto!" vem com força! O povo encontrou o que parecia uma espécie de tumba no chão com um contrabaixo feito de flores em cima com apenas 3 cordas, isto é, 1 Beatle estava faltando! Além disso, várias celebridades aparecem perto dos FabFour. Diz a lenda que Jesus Cristo, Gandhi e Hitler deveriam estar ali também, mas por uma série de questões práticas foram deixados de lado (apesar de alguns dizerem que Hitler aparece escondido em algum cantinho). Tem gente que diz que essa foi uma das capas mais copiadas (e satirizadas) de todos os tempos, o que é de fato uma grande homenagem.
A questão é que Sg. Pepper foi revolucionário em vários sentidos e com certeza abriu muitas portas para o que muitos de nós ouvem hoje em dia... pode ser difícil ouvi-lo hoje e conseguir captar o que as pessoas sentiram na época, mas com certeza foi algo revolucionário!

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